A pandemia trouxe para o debate público, entre outras questões, a necessidade de disponibilizar conteúdos culturais através do ecrã dos nossos computadores. Há muitos fossos a colmatar antes disso, o primeiro deles o que tem a ver com o próprio acesso a Rede e que a crise de saúde evidenciou com crueza, mesmo assim, o passo seguinte, democratizar o acesso à cultura nos meios digitais é também necessário. Milhares acederam nos dias do confinamento a visitas virtuais aos principais museus do mundo, clicaram em iniciativas, quer privadas, quer públicas com a Cultura como pano de fundo.

Hoje quero falar-vos dalguns destes repositórios, aqueles que têm a ver com a consulta de fontes documentais hemerográficas, bibliográficas e arquivísticas. Tanto na Galiza quanto a nível estatal, dispomos de diversas plataformas para consulta de fundos, e muitas delas interligadas com o projeto europeu, Europeana, que pretendem coordenar esforços no sentido de preservar o património cultural comum ao espaço dos países membros da UE. De acordo com o próprio site, nele é possível consultar mais de 60.000.000 de itens, entre “obras de arte, artefactos, livros, videos e sons de toda a Europa”.

Para além dos Pirenéus tenho passado algum tempo no repositório da Bibliotheque Nationale de France cujo projeto digital, Gallica, está disponível também em espanhol, foi ali onde deparei, por exemplo, co traballo de Philippe Joudiou quem na década de quarenta visitou este nosso Finisterrae galaico e deixou imagens como esta abaixo de 1949 de uma camponesa:

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Também já dei alguma volta pelo British Newspaper Archive, mas os britânicos não são assim tão generosos, e permitem apenas a consulta de três páginas de graça e só assim que te registares.

Neste sentido, a nível estatal, há boas opções para quem goste de newspapers, eu, para consulta hemerográfica, visito muito frequentemente a BVPH, foi nela que, entre as 1.200 ocorrências que me devolveu a pesquisa de fundos relacionados com a minha aldeia, Vilar de Santos, deparei com a seguinte nota:

“Se reclama por este Juzgado la persona de Manuel Morales, vecino de Villar de Santos, Alcaldía de del mismo nombre en este partido; sus señales son, (…) 20 años, estatura, 5 pies 2 pulgadas, cara regular, barbilampiño, pelo y cejas, negro, ojos idem, chaqueta y pantalón paño pardo, chaleco azul, sombrero redondo caso se verifique su arresto se remitirá, con toda seguridad dad por los tránsitos de justicia á disposición de este Juzgado Ginzo de Limia.” Noviembre 25 de 1836.”

No, a priori, pouco atrativo Boletín Oficial de la Provincia de Orense, cujo primeiro registo precede apenas em dois anos ao aqui reflectido, em apenas cinco linhas podemos reparar no nome, no apelido, na idade, na estatura, nas características físicas, no vestuário de uma pessoa nascida em 1816. Causou-me especial emoção, confesso, poder ver tão detalhada descrição de uma pessoa de há duzentos anos, por mais que o Manuel andasse, ao que parece, metido em assuntos pouco claros.

Como podem ver, tenho um fraquinho por procurar notícias ligadas à aldeia natal, foi noutra fonte de interesse para consulta documental, a Gazeta de Madrid, que acabei por deparara com a vizinha de que tenha registo (fora do âmbito arquivístico, disto já falaremos algures). Corria o ano de 1779, e à Gazeta de Madrid, chegara notícia de que Maria Caseiro parira “a fines de Noviembre último una niña de regular proporción, y al amanecer del dia siguiente 3 niños consecutivamente”

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Não deixa de ser curioso comprovarmos como o precedente do BOE, hoje tão transitado por causa da pandemia, podia reservar tempo ao feliz parto múltiplo de uma mulher de Vilar de Santos, seria assim tão importante essa Maria Caseiro?

Outra das ferramentas que costumo empregar neste meu mergulhar polos repositórios digitais é a da Galiciana, o projeto de âmbito autonómico que pretende reunir o património documental da Galiza, através de dous corpos principais, o projeto biblioteca.galiciana.gal e o projeto arquivo.galiciana.gal, o primeiro voltado para a pesquisa hemerográfica e bibliográfica, e o segundo para a arquivística. É no primeiro que quero terminar este particular percurso pela minha aldeia com que enceto este blog, a edição El Compostelano de 19 de junho de 1929 dava conta de um estarrecedor sucesso, um incêndio deflagrara num velório, o da jovem Vicenta Feijóo Saa, cujo cadáver acabou também queimaduras no rosto e extremidades. No ano do trágico sucesso completaria 18 anos a pessoa com a que iniciarei o próximo post e com o qual porei o ramo a este retrato necessário no emocional, para mim, da aldeia em que me criei.

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